Há muito, muito tempo, em uma terra distante, vivia um jovem camponês em sua modesta choupana. Um dia, enquanto colhia verduras na terra exaurida de sua fazenda, uma brilhante garça branca caiu aos seus pés, com uma flecha perfurando uma de suas asas. Com pena da garça, o homem cuidou do ferimento e a deixou voar novamente. Em agradecimento, a garça trouxe uma bela mulher até a casa do camponês. A mulher se ofereceu para ser sua esposa, e eles começaram uma nova vida juntos.
No entanto, o jovem camponês começou a ficar preocupado, pois mal tinha o suficiente para se alimentar, imagine alimentar mais uma pessoa! A bela mulher, consolando-o, disse para que ele não se preocupasse, pois havia muito arroz ainda. Misteriosamente, o saco de arroz se mantinha sempre cheio para sustentá-los. Mas havia outra preocupação na mente do pobre camponês: ele tinha pouco para oferecer à esposa, não podia comprar vestidos ou sequer proporcionar conforto. No entanto, a bela moça, além de bonita, era atenciosa e trabalhadora.
Preocupado com as despesas, o camponês desabafou com a mulher, que então propôs construir um quarto de tecelagem para produzir tecidos e ajudar nas finanças do casal. Assim foi feito: o quarto foi construído, mas, em troca, o homem não poderia espiar o processo de produção do tecido. A mulher passava até três dias tecendo os fios, sem dar sinal de vida. Ao fim do terceiro dia, ela aparecia com um tecido lindo e deslumbrante em suas mãos, o qual dizia para o marido vender por um alto valor. E assim era feito. Eles viviam em conforto graças ao trabalho da bela esposa, mas, como é da natureza humana, o homem foi tomado pela ambição desmedida.
Com o excesso de trabalho, a mulher começou a emagrecer e a se queixar de cansaço, e avisou ao marido que pararia de tecer por um tempo. O marido, ambicioso, insistia para que ela tecesse mais uma vez. No entanto, ao invés de 3 dias, passaram a ser 7 dias dentro do quarto de tecelagem. Desesperado, o marido decidiu verificar o que havia acontecido à esposa. Qual não foi sua surpresa ao olhar pela fresta da janela do quarto de tecelagem e perceber que, no lugar de sua esposa, havia uma garça muito parecida com aquela que ele havia salvado. E com a ajuda de seu bico, a garça arrancava pena por pena do próprio corpo para produzir aqueles lindos tecidos.
A esposa percebeu que o marido a observava e, vendo que a promessa tinha sido quebrada, disse: “Eu sou a garça que você salvou. Eu queria muito recompensá-lo por sua gentileza em me curar, por isso me tornei sua esposa. Mas, agora que você conhece minha verdadeira forma, eu não posso mais ficar aqui.” Assim, com as mãos trêmulas, ela entregou o último tecido e disse: “Isto é para que você se lembre de mim.” Assim dizendo, ela se transformou novamente em um tsuru e voou, deixando o camponês com lágrimas nos olhos ao vê-la desaparecer no horizonte.